terça-feira, 15 de junho de 2010

Entre AMIGOS com Ricardo Mendão

Ricardo Mendão Silva

Idade: 26 anos

STAM: 047K

Associação Ornitológica de Coimbra

e-mail: rnsilva@psicopata.net

site: http://www.psicopata.net



Não sei se foi aos 10, 11 ou 12 anos de idade. Talvez mais tarde...talvez mais cedo. Não me lembro da data, mas nunca mais me esqueci do momento. Estava pela primeira vez perante uma colónia de periquitos Australianos. Fiquei sentado a olhar para aquilo, só a vê-los no seu dia-a-dia.

Um espectáculo de cor, dança, música e rituais. Um espectáculo que me fascinou para a vida.


Sem influências familiares, a Ornitologia ocupou de imediato um espaço importante na minha vida. De espectáculo fascinante passou também a ser o recanto da vida, o esconderijo do mundo, o escape à rotina, a paz e a liberdade. Horas e horas passei eu desde então, a observar aves: as minhas, as dos outros e as de todos.


Lembro-me de em miúdo passar tardes inteiras deitado em cima das sacas de comida a olhar para os Mandarins, Bengalins, Pardais de Java, Rolas Diamante, Peitos-celestes, Canários, Periquitos, Caturras, Roseicollis, Personatas, Rouxinóis do Japão, Melros metálicos, Gaios de Crista Branca, Viúvas, Tecelões... Lembro de contar mais de 42 espécies diferentes lá em casa.

Lembro-me de adormecer e acordar a ouvi-los cantar e chilrear. Lembro-me de carregar rolos de rede e dúzias de ripas na bicicleta para construir novos viveiros. Lembro de sonhar em comprar o Mainata que via lá na loja, os diamantes de gold e aqueles pássaros grandes, muito caros, cuja etiqueta dizia “Periquitos de rabo-de-junco”.


Outras paixões entretanto se intrometeram e a razão levou a diminuir drasticamente o plantel. Chegava a hora de começar a fazer pela vida, e a Engenharia, outra paixão, assim o ordenava. Durante os anos de curso, o número de aves lá em casa nunca foi o desejado.

O tempo era pouco e o trabalho muito. Porém, foi nessa época que consegui finalmente adquirir os tais rabo-de-junco tão desejados e começar a preparar o futuro.


O futuro de alguns anos é o presente de hoje, presente esse em que atinjo a estabilidade que antes desejava (troquei a bicicleta pelo carro :D ). Pelo caminho ficaram muitas alegrias, muitas saudades e muitas vivências. Ficaram também muitos dissabores.
Altos e baixos que me permitiram evoluir e construir a minha visão sobre o que entendo que deve ser a ornitologia e como a devo praticar. É certo que esta visão e este modo de interpretação pessoal, é um trabalho evolutivo, e como tal nunca concluído.

É certo também que o que para mim é uma realidade, pode não o ser para outros. O que para mim é essencial, um direito, podem outros considerar desprezável.

Como individuo, ornitólogo por prazer, manter aves é primeiramente um acto de responsabilidade pela vida e respeito pelos outros indivíduos, que neste mundo habitam.
Segundo, é um acto de responsabilidade pela manutenção da espécie, pela qualidade dos exemplares, pela biodiversidade e pelo equilíbrio de todo o ecossistema.

Terceiro, manter aves, deve ser um acto feito por paixão aos animais, às aves, trabalhado com prazer, gosto e muita dedicação. Se não consigo dedicar-me devidamente a 42 espécies, então devo criar apenas meia dúzia, mas garantir que nada falte a cada exemplar.

Neste momento mantenho 5 espécies, com 5 casais de cada. Fui fazendo uma selecção natural com base nas características de cada espécie, no meu gosto pessoal e na facilidade de manutenção. Assentei a base dos meus viveiros em 3 espécies principais: Ringnecks (os tais periquitos de rabo-de-junco), Red Rumped e Bourkes.

À parte destes mantenho ainda Caturras em colónia (espécie da qual nunca me consegui desfazer) e Canários Malinois (cujo canto me fascina).

É com estas espécies que tenho trabalhado e é com estes que vou trabalhar nos próximos anos. Com mais ou menos casais, pretendo focar-me na definição de linhas e variedade genética.

Dos longínquos anos de Biologia, onde as leis de Mendel e a história evolutiva de Darwin pouco me entusiasmava, eis que fica todo este conceito de genética, cruzamentos e mutações, na descoberta de novas paixões.


E tudo isto, que era apenas um espectáculo de cor, dança, musica e rituais, tornou-se no que intitulo hoje de “PSICOPATA – Ornitologia Viva!!”.

Desde as minhas aves, desde o site psicopata.net até ao software grátis de gestão de plantel “Psicopata 2.0”, tudo é resultado de um culminar de acontecimentos e tudo é sujeito a uma evolução, toda ela natural (como diria Charles Darwin).


Texto: Ricardo Mendão, fotografias: Ricardo Mendão
Montagem, enquadramento do artigo: Osvaldo Sereno
Agradeço ao amigo Ricardo, por escrever o texto e enviar as fotografias, imprescindível a este artigo.
Muito OBRIGADO.

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