segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Açores aposta em plantas endémicas para salvar habitat do Priolo

 "Milhares de plantas  nativas estão a ser produzidas anualmente em viveiros na ilha de São Miguel, nos Açores, para a recuperação do habitat natural do Priolo, ave endémica açoriana "em perigo".

“Aqui são produzidas plantas que depois são replantadas em sítios onde existem invasoras que começaram a ocupar locais onde antigamente eram floresta laurissilva dos Açores", disse Filipe Figueiredo, técnico florestal, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em declarações à Lusa.
Na Quinta dos Serviços de Desenvolvimento Agrário, em Santo António Nordestino, concelho do Nordeste, estão a ser produzidas plantas herbáceas e fetos e plantas arbóreas e arbustivas, embora estas duas últimas "em menor quantidade".
"O objetivo é produzir entre 40 e 50 mil plantas por ano, na maioria herbáceas, que depois serão replantadas para recuperar o habitat do Priolo", explicou o técnico florestal da SPEA, frisando que já se constatou na mata dos Bispos, na Povoação, parte sul da área de distribuição do Priolo, que o reaparecimento de espécies invasoras “é muito menor".
A produção, em viveiros, destas plantas nativas, uma ação no âmbito do Projeto LIFE+ Terras do Priolo, começou na Povoação, a partir de 2009, estando agora a decorrer, desde finais de 2015, no Nordeste.
"Ao melhorar-se o habitat do Priolo, (a Floresta Laurissilva dos Açores), com mais diversidade de espécies estamos a melhorar a disponibilidade de alimento para o Priolo", salientou Filipe Figueiredo, indicando que a produção de plantas para recuperar o local que estava invadido invasoras, decorre também em articulação com os serviços florestais.
Nos viveiros do projeto LIFE+Terras do Priolo a estufa principal serve para o desenvolvimento mais rápido das plantas, através do controlo de humidade e temperatura, enquanto numa outra, denominada "estufa de sombra", faz-se a adaptação das plantas ao clima.
Mas, as plantas não se produzem todas no mesmo período, segundo explicou, indicando que no caso das arbóreas e arbustivas a produção varia "entre um ano a um ano e meio, no mínimo", desde a germinação até sair para o terreno, enquanto as herbáceas germinam, na generalidade, "em 15 a 20 dias" e "em seis meses estão prontas para serem plantadas".
Além da produção de plantas nativas, a partir de recolha de sementes, as espécies produzidas nos viveiros do projeto do Priolo são também cedidas a várias entidades ou serviços, principalmente para a recuperação de áreas costeiras, e também disponibilizadas a particulares.
“Com cinco gramas de sementes conseguimos produzir 400 a 500 plantas o que é bastante positivo, já que não há em muitas quantidade”, garantiu ainda Filipe Figueiredo, referindo-se à produção, por exemplo, de uma espécie endémica dos Açores, a Azorina Vidalii, uma planta costeira.
Com o intuito de dar a conhecer esta produção o Centro Ambiental do Priolo abriu hoje as portas dos seus viveiros de produção de plantas nativas, uma ação designada "Open Days" que permite durante uma visita guiada, ou livre, "observar não só as plantas produzidas, mas também alguns dos métodos utilizados".
A ideia é abrir todas as sextas-feiras as portas dos viveiros e criar uma espécie de roteiro turistico, segundo Filipe Figueiredo.
O priolo abandonou o estatuto de criticamente em perigo de extinção graças aos projetos que têm sido levados a cabo pela SPEA, Governo Regional e outros parceiros.
Atualmente esta ave endémica está com o estatuto de “em perigo”, pelo que ainda é preciso evitar perturbações no seu habitat natural.
O projeto LIFE+ Terras do Priolo tem verbas asseguradas até 2018 e a ave endémica existe especificamente no Pico da Vara e Ribeira do Guilherme, duas zonas de proteção especial integradas no Parque Natural da Ilha de São Miguel.
De acordo com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a população do priolo está estimada entre 500 a 800 casais e entre 1300 a 1500 indivíduos."

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